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Escuelas Interculturales Bilingües de Frontera

Não é portunhol. (http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/nao-portunhol-584620.shtml)


NOVA ESCOLA


Edição 234 | Agosto 2010

Não é portunhol

Na região da fronteira, brasileiros lecionam na Argentina e argentinos, no Brasil

Beatriz Santomauro (bsantomauro@abril.com.br) de Dionísio Cerqueira, SC, e Bernardo de Irigoyen, Argentina

Fotos: Beatriz Santomauro
INTERCÂMBIO A argentina Laura (à esq.) e a brasileira Edna com suas turmas. Fotos: Beatriz Santomauro

"Permiso, maestra!" Assim os alunos do 5º ano da EEEB Theodureto Carlos de Faria Souto, em Dionísio Cerqueira, a 758 quilômetros de Florianópolis, pedem licença à educadora argentina Laura Rasch para entrar na sala. Nesse dia, o tema da aula é o clima amazônico: ecuatorial, húmedo, con muchas precipitaciones

A poucas quadras dali, já na Argentina, as crianças do 2º ano da Escuela de Frontera de Jornada Completa Nº 604, de Bernardo de Irigoyen, arranham o português para falar sobre a Copa do Mundo - mas as bandeiras pregadas na parede da sala deixam claro que torcem para o time de Maradona. Essa mescla de línguas ocorre também em outras 11 instituições brasileiras participantes do programa Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira, uma parceria entre Brasil, Argentina, Venezuela, Uruguai e Paraguai. Os 60 professores brasileiros envolvidos na iniciativa recebem pela rede em que trabalham e o governo federal financia a formação. Os alunos atendidos aprendem os conteúdos previstos no currículo do seu país com um professor da língua materna e têm aulas extras com um educador do país vizinho na língua estrangeira. As atividades são planejadas pelos dois. 

A organização das aulas é por projetos didáticos e o tema varia conforme a escolha da turma. O professor registra o que os alunos já conhecem e questiona quais informações gostariam de obter. Juntos, pensam onde poderiam conseguir mais dados. Depois de pesquisar, fazer experimentos e assistir a aulas expositivas, a turma prepara um trabalho para mostrar o que aprendeu. Só então, passa a estudar outro tema. O tempo de aula e a idade dos alunos variam. Em Dionísio, são dois encontros semanais, de três horas, cada um, com turmas de 1º a 5º ano. 

Todas as cidades participantes têm uma forte ligação com o território vizinho, muitas vezes do outro lado da rua, como nesse caso. Não é raro um estudante já ter morado ou fazer compras do lado de lá da fronteira - no caso catarinense, aproveitando que o peso argentino vale cerca da metade do real. "Os argentinos têm contato com a língua portuguesa pelas novelas e pelo rádio. As aulas são uma oportunidade para treiná-lo", diz a professora brasileira Edna Alves Rosa. Assim, se intensifica a interação com uma língua tão próxima, mas nem sempre presente na sala de aula.


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